
Se você gosta de moda, não tenho dúvidas de que já leu o livro “O diabo veste Prada” ou viu o filme, estrelado por Anne Hathaway e Meryl Streep. Se você é fascinada pelo filme, assim como eu, tenho certeza que de tanto assisti-lo já gravou metade das suas falas.
Bom, durante algum tempo da minha vida eu pensei que ela seria como as páginas de “O Diabo veste Prada”.
Eu, claro, seria a Andy, uma mulher muito inteligente e esforçada, que sofre na mão na chefe-madrasta.da.branca.de.neve, até que essa reconhece o seu valor. No meio do caminho haveriam vários front rows, estilistas famosos, peças exclusivas, amigos que são os melhores maquiadores do mundo e jantares nos melhores restaurantes da cidade.
A diferença é que eu já ia começar a história usando vários looks maravilhosos, já teria na bagagem várias especializações em moda e diversos trabalhos nas maiores maisons. E no final, é claro, eu salvaria a Miranda Priesley da sua arrogância e deixaria todo o mundo da moda muito mais amigável. Mais ou menos como fez a personagem principal de outro filme, “De repente 30”.
Para aqueles que não sabem, a personagem de Meryl Streep existe na vida real, e atende pelo nome de Anna Wintour. Editrix da vogue Americana. Com uma carreira de que é o sonho de consumo de toda a garota (e garoto) que sonha com um par de Manolo Blahniks no armário.
“Eu só queria ser a Anna Wintour”, já ouvi isso da boca de pelo menos umas 30 pessoas. Mas preciso confessar, eu não queria. Não quero. Dispenso tamanha arrogância e tenho certeza de que esta não é necessária para se tornar um bom profissional, independente da área em que estiver. E essa arrogância é uma das coisas que destrói todo o potencial de seriedade que a moda tem, principalmente quando falamos da moda nacional, que muitos ainda teimam em dizer que não existe.
Nesses meus míseros anos de vida, já frequentei muitas semanas de moda, backstages e desfiles, alguns deles na primeira fileira, sentei do lado de jornalistas, editores, famosos, blogueiros e até bati um papo sobre a minha rinite alérgica com a Gloria Kalil. E preciso dizer que de todos os profissionais da moda brasileira que eu conheci, os que eu sei que continuarão a seguir esse caminho e fazer com que a moda atinja o status que ela merece são os competentes, os simpáticos e solícitos e mesmo aqueles que se escondem atrás da sua timidez (porque sim, ela existe e não deve ser um problema). Os que te cumprimentam com um bom dia, oferecem um pouco do café que acabaram de fazer e que vão estar dispostos a te ajudar sempre que for preciso.
Quanto aqueles que nasceram com o nariz em pé e juram que querem ser a Miranda Priesley, pode esquecer, você só se faz no mercado de trabalho adquirindo a confiança de quem senta do seu lado. E pode ter certeza que quem bate o pé pela primeira fila de um desfile da São Paulo fashion week, pelo simples e puro badalo de estar ali, a prima socialite de fulano de tal que tem uma coleção de bolsas Chanel, não vai durar. Não vai ditar aquela tendência que eu vou lembrar daqui a 20 anos. Vai ser um hot esquecido. Simplesmente porque não é ostentação, a moda é um indústria que gera empregos e move a economia.
Pode abrir a internet ou folhear uma revista, quem só vive de nome e aparência está começando a sumir. Muitas sumiram antes delas.
Afinal, “A million girls would kill for this job” (um milhão de garotas se mataria por esse trabalho), e elas não estão fazendo isso da maneira certa. Até a Andy Sacks percebeu que não precisava se matar e se substituir por outra pra garantir o seu mérito.
este O Diabo veste Prada: Não quero ser a Miranda Priestly é um conteúdo original Modices.